2085

“2085”: futuro, arrependimentos e ansiedade em foco

“2085”, da AJR, usa o futuro para encarar o presente. É um espelho de arrependimentos e de medo da mortalidade. “You are not alone” (você não está sozinho) soa como bilhete ao eu de ontem. O golpe vem em “If somebody told me I’d die at 40” (se alguém me dissesse que eu morreria aos 40), seguido do lamento por ter passado tempo demais na cama escrevendo músicas em vez de viver. O choque com “It’s 2085 and we’re old as shit” (é 2085 e estamos velhos pra caramba) cria o contraste entre ir cedo e fantasiar que haverá tempo para se ajeitar. O “whatever” (tanto faz) repetido posa de indiferença, mas revela ansiedade, escancarada em “I shoulda just asked for help” (eu devia só ter pedido ajuda).

A letra empilha sinais de tempo e perda: “Now all of the interns are no longer interns” (agora todos os estagiários não são mais estagiários), o beijo que não veio, o aniversário sem amigos. Daí nasce o recado geracional — “go tell your grandson... you don’t have to try so hard” (vá dizer ao seu neto... você não precisa se esforçar tanto) — ligado ao reconhecimento: “I spent my whole life tryna be so liked / That only made ’em hate me more” (passei a vida inteira tentando ser tão querido / isso só os fez me odiar mais). A crise de identidade aparece em “I wish I was me, whoever that is” (eu queria ser eu, seja lá quem isso for) e se transforma num compromisso pé no chão: “So if this is me, then I’ll do my best” (então, se isso sou eu, vou dar o meu melhor). O mantra “You gotta get better, you’re all that I’ve got” (você tem que melhorar, você é tudo o que eu tenho) sustenta a esperança. E o fecho “for two or three minutes, then I’m gone” (por dois ou três minutos, depois eu vou embora) resume a urgência do relógio.