Cordel Virtual

A Sátira Tecnológica de Alceu Valença em 'Cordel Virtual'

A música 'Cordel Virtual' de Alceu Valença é uma obra que mistura elementos da cultura popular nordestina com uma crítica bem-humorada à tecnologia moderna. A letra começa com uma afirmação provocativa: 'Em 1939, satanás inventou a internet e o computador só pra arranjar um love'. Aqui, Alceu utiliza uma anacronia, já que a internet e o computador não existiam nessa época, para criar um cenário fictício onde o diabo, figura tradicionalmente associada ao mal, é o inventor dessas tecnologias. Essa metáfora sugere uma visão crítica sobre como a internet pode ser vista como uma ferramenta de sedução e manipulação.

A narrativa continua com o diabo tentando seduzir Maria Bonita, uma figura histórica e lendária do cangaço brasileiro, conhecida por ser a companheira de Lampião. A escolha de Maria Bonita não é aleatória; ela representa a resistência e a força feminina. Ao tentar seduzi-la com 'palavras doces, docíssimas', o diabo é retratado como um 'malandro notório', reforçando a ideia de que a internet pode ser um espaço de engano e falsidade.

Quando Maria Bonita conta a Lampião sobre a tentativa de sedução, a situação se transforma em um confronto direto. Lampião, outra figura icônica do cangaço, é descrito como alguém que exige satisfação e não teme enfrentar o diabo. A cena final, onde o diabo manda Lampião 'pro beléléu', é uma expressão popular que significa mandar alguém para longe ou para o inferno, fechando a narrativa com um toque de humor e ironia. A música, portanto, utiliza personagens históricos e elementos da cultura popular para fazer uma crítica à influência da tecnologia nas relações humanas, tudo isso com a marca registrada do estilo poético e satírico de Alceu Valença.