Canção do Lenço

Saudade e luto em “Canção do Lenço”, amor interrompido

Em “Canção do Lenço”, composição de Severino Pelado na voz de Alcymar Monteiro, a narrativa segue um romance popular marcado por encontro, promessa e perda. O cenário é a festa de Santo Antônio, santo casamenteiro no imaginário nordestino, onde “eu convidei para dançar e senti o amor entrar”. O namoro dura “um ano e seis meses” até que a doença rompe a trajetória e “veio a morte enfurecida”. Antecipando o fim, ela entrega o lenço: “Nessa hora de aflição… pegou o lenço e me deu”. O lenço roxo funciona como compromisso de luto e lembrança, bordado em amarelo com “Um A um M e um B”, código íntimo que pode apontar iniciais do nome dela ou um afeto como “Amor, Meu Bem”.

O texto da canção aciona imagens diretas para amor, destino, morte e saudade: o aviso da doença, o adeus — “vou morar no cemitério / vou viver a sepultura” — e a materialidade do objeto: “roxo da cor da saudade / bordado com letras amarela”. O lenço vira ritual de memória e consolo: “Quando de mágoa eu chorar, o meu pranto irei enxugar no lenço que ela me deu”. A cor roxa, associada ao luto, somada ao bordado amarelo, dá corpo ao que restou: a perseverança de um amor interrompido. Na interpretação de Alcymar Monteiro, apelidado “Rei do Forró”, o repertório cultural do Nordeste — festa junina e devoção a Santo Antônio — amarra a história e acentua o tom de fatalidade quando o destino faz “traição”.