Paper Crown

“Paper Crown”: feridas, defesa e o mito do salvador

Em “Paper Crown”, Alec Benjamin desmonta o conto de fadas do salvador e desloca o conflito para dentro. Os símbolos de abertura — “paper crown” (coroa de papel), “heart made of glass” (coração de vidro), “kingdom of ash” (reino de cinzas) — definem uma realeza frágil: uma identidade que parece poderosa, mas se desfaz ao menor toque. Depois do rompimento, a personagem resiste ao incêndio e segue com cicatrizes que não somem; há reconstrução, mas não retorno ao que era. O refrão concentra a tensão: ao erguer defesas para evitar dor, ela também barra a chegada do amor. Proteger-se vira isolar-se, como um castelo que cai no mar não só por abandono externo, mas porque as próprias muralhas viram prisão.

O contexto reforça essa leitura. Escrita como single de estreia em 2014 e relançada em 2020 por sua importância pessoal, a canção trata do pós-rompimento e de como barreiras emocionais sabotam a redescoberta do amor. No clipe animado concebido por Benjamin, a imagem da rainha solitária ecoa versos como “the war that’s inside” (a guerra interior) e “there’s no fairytale” (não há conto de fadas), que rejeitam o mito do salvador e colocam a decisão no íntimo: não existe rei que virá resgatar, só a escolha entre esperar e se esconder ou, aos poucos, baixar as paredes. A rainha vira metáfora de qualquer pessoa ferida que veste uma coroa de papel para manter controle; enquanto o coração de vidro permanecer trancado, o mesmo mar que levou o castelo seguirá separando a personagem da chance de amar e ser amada.