Yo Te Esperaba

Afeto e espera em “Yo Te Esperaba”, de Alejandra Guzmán

“Yo Te Esperaba”, lançada em 1993 após o nascimento de Frida Sofía (1992), ficou marcada como uma declaração de amor materno. Oficialmente, a autoria é de Gianpietro Felisatti e José Ramón García Flórez. Mesmo assim, Alejandra Guzmán apresentou a faixa como dedicada à filha e afirmou tê-la escrito na gravidez — afirmação que Frida contestou publicamente. A leitura afetiva, porém, se sustenta no texto e nas imagens da canção, inclusive na expressão ambígua “El mono de escenario” (a abstinência do palco), que sugere que a chegada do bebê a ajudaria a lidar com a fissura pelos holofotes e pelos excessos da vida artística.

A letra narra a gestação com delicadeza prática e ansiedade serena. “Luna llena y de perfil” (lua cheia e de perfil) captura o corpo grávido no espelho; “pateando la oscuridad de mi vientre maduro” (chutando a escuridão do meu ventre já maduro) transforma os chutes em presença; “pintaba sobre las paredes de tu cuarto” (pintava nas paredes do seu quarto) mostra a preparação do ninho. Há a expectativa — “Imaginando a ciegas el color de tu mirada” (imaginando às cegas a cor do seu olhar) —, o medo — “Muerta de miedo le rogaba al cielo” (morrendo de medo, suplicava ao céu) — e uma promessa realista: “El mundo es como es y no puedo cambiártelo, pero siempre te seguiré para darte una mano” (o mundo é como é e não posso mudá-lo para você, mas sempre vou te acompanhar para te ajudar). O desejo de encontro surge intenso — que o filho chegue “mucho más que yo” (muito mais do que eu). Com ou sem a pena de Guzmán, fica o retrato claro da espera e do amor antes do primeiro abraço.