Hollow

Vazio e desgaste em “Hollow”: solidão e desorientação

A imagem da “montanha oca” não fala só de vazio: sugere erosão lenta — algo rígido por fora e “túnel e perfurada por baixo”, consumido de dentro para fora. Esse desgaste ecoa o momento de criação: Jerry Cantrell compôs “Hollow”, do Alice In Chains, doente, aquecendo no camarim, e a exaustão física vira paisagens internas frias e indiferentes, “coroada por um céu azul, frio”. A letra orbita desconexão e entorpecimento: “All of your colors turn to grey” (Todas as suas cores viram cinza), “Bleeding impressions where you were tied” (Marcas sangrando onde você foi amarrado) e “Easy to feed off a weaker thing” (É fácil se alimentar de algo mais fraco) apontam para aprisionamento e relações predatórias ou de dependência. “All of the faces life can show / Withered and ugly the one you know” (Todas as faces que a vida pode mostrar / A que você conhece está murcha e feia) reduz a identidade a uma casca, alguém que já não se reconhece.

Musicalmente, o entrelaço de grunge, sludge e doom dá peso mineral ao refrão, enquanto a alternância de compassos — versos em 6/4 e refrães em 4/4 — encena a desorientação de “I can’t tell my up from down” (Não consigo dizer o que é cima e o que é baixo), antes de fixar o mantra “Hollow as a mountain” (Oco como uma montanha). “Silence so loud” (Silêncio tão ensurdecedor) captura o torpor em que o ruído interno paralisa. O lyric video, montado com imagens de fãs via #HOLLOWAIC, adiciona ironia: um mosaico coletivo que espelha a massificação das cores que viram cinza, como se a solidão privada se refletisse num feed desbotado. No conjunto, “Hollow” expõe alguém usado, esvaziado e sem rumo, preso entre a vontade de admitir a verdade — “Harder to say what I really mean” (Mais difícil dizer o que eu realmente quero dizer) — e um silêncio que domina tudo.