Drunfos

Ironia e crítica social em "Drunfos" de Allen Halloween

Em "Drunfos", Allen Halloween utiliza a repetição do verso “As costas já não me doem muito, Eu acho que o Doutor deu-me Drunfos” para ironizar a ideia de alívio. Aqui, "Drunfos" funciona como uma metáfora para qualquer forma de anestesia, seja ela literal, como medicamentos, ou simbólica, como mecanismos de fuga emocional. O personagem da música recorre a esse entorpecimento para suportar o peso do julgamento social e da solidão, um tema recorrente no contexto do álbum e nas apresentações do artista.

A letra mistura humor e crítica social ao retratar um personagem marginalizado, que enfrenta preconceito e sente-se deslocado: “Dizem que eu tenho um mau aspecto / E tenho um estranho dialecto”. O sentimento de abandono aparece em “Eu vi os meus amigos todos a bazar / Eu acho que fui o único que ficou por cá”, enquanto as referências a escolhas de fuga e à perda do “comboio” sugerem oportunidades perdidas e a dificuldade de mudar de vida. O refrão reforça a ironia de um alívio temporário, que apenas adormece os problemas sem resolvê-los.

O tom irônico também se manifesta em conselhos e provocações, como “Eh rapaz! Não desperdices tanto tempo a andar / Atrás dos meus Velhos All Star”, criticando a imitação e a falta de autenticidade. No final, a repetição de “os comboios não deviam andar” questiona a pressão social para seguir em frente, valorizando a permanência no próprio ritmo. Assim, "Drunfos" se destaca como um retrato honesto e sarcástico de quem busca alívio diante da exclusão, sem perder o humor ácido de Allen Halloween.