Culpable Tú

Quando o adeus vira autoafirmação em “Culpable Tú”

A força de “Culpable Tú” está em transformar orgulho ferido em limite e identidade. Lançada em 2016 no álbum homônimo do grupo de Tijuana Alta Consigna, a narrativa vai do encantamento ao rompimento: “Ser inmune a tus ojos que me dominan / te robas mi corazón solo con sonreír” (Ser imune aos seus olhos que me dominam / você rouba meu coração só de sorrir), até a constatação que derruba a relação: “Pero solo con un hombre no puedes cumplir” (Mas com um só homem você não consegue se satisfazer). Ao admitir “y este no era yo” (e esse não era eu), o eu lírico reconhece que a traição o tirou de si; a saída, então, é recuperar quem é, não apenas ir embora: “solo me vine a despedir” (só vim me despedir). O desejo de “Regresar el tiempo” (voltar o tempo) revela arrependimento por ter se deixado levar, mas a autoafirmação prevalece: “Ya no estoy para ti lo confieso” (já não estou aqui para você, confesso) e a acusação “Culpable Tú” (culpa sua) deslocam o peso do fim para os “engaños” dela.

A mágoa aparece com um viés de revanche emocional: ele quer que ela “se muera de arrepentimiento” (morra de arrependimento) e provoca o novo par com “Porque de él, no te sabrá ni un beso / Y en la cama no existe deseo” (Porque dele, nem um beijo vai ter gosto para você / e na cama não existe desejo). “No te sabrá ni un beso” sugere, ao mesmo tempo, falta de sabor e a ideia de que ele “não saberá” nem beijá-la. Já “Sientas que te derrites por dentro” (que você sinta que se derrete por dentro) transforma o antigo “derreter-se” de encanto em remorso que corrói. Com letras emotivas e apelo melódico típico do regional mexicano, a canção fecha de modo resoluto: ele reconhece o estrago, recusa o retorno e reafirma a própria identidade ao sair.