Odeon

Memória e saudade no chorinho “Odeon” de Altamiro Carrilho

A música “Odeon”, interpretada por Altamiro Carrilho, destaca a forte ligação entre o chorinho e a memória afetiva do passado. O título faz referência ao Cine Odeon, local onde Ernesto Nazareth, compositor da peça original, se apresentava ao piano. A letra evoca esse ambiente nostálgico, marcado por lembranças de uma época “linda, triste, era bom / Igualzinho a um chorinho / Chamado Odeon”. O tom melancólico aparece na ideia de abandono e reencontro: o chorinho, antes esquecido, retorna carregado de emoção, funcionando como ponte entre o presente e as memórias do passado.

A letra utiliza imagens sensoriais e musicais, como “terçando flauta e cavaquinho” e “meia-luz, meia-voz, meio-tom”, para recriar a atmosfera intimista dos saraus e rodas de choro do início do século XX, contexto em que Nazareth compôs a obra. O verso “Já ninguém chora mais por ninguém” sugere mudanças nos valores e relações humanas, reforçando o sentimento de perda cultural. Ao mesmo tempo, há o desejo de reviver a inocência e esperança da infância, como em “Se eu pudesse recordar / E ser criança / Se eu pudesse renovar / Minha esperança”. O chorinho é apresentado como um amigo antigo, uma prece do coração, que carrega tanto beleza quanto tristeza dos tempos passados.

O contexto histórico da peça, marcada pela fusão entre o popular e o erudito, reforça o valor simbólico do chorinho como expressão da identidade musical brasileira. A letra transforma a melodia instrumental em poesia, traduzindo em palavras o sentimento de saudade e a busca por um tempo em que a música unia as pessoas em torno de emoções compartilhadas. O refrão “Ai que lindo, ai que triste, ai que bom / De um chorinho chamado Odeon” resume essa mistura de alegria, melancolia e gratidão, celebrando o chorinho como memória viva de um Brasil afetivo e sonhador.