I Am Sitting In A Room

A relação entre voz, espaço e identidade em “I Am Sitting In A Room”

“I Am Sitting In A Room”, de Alvin Lucier, é uma obra que ultrapassa o campo do experimento acústico tradicional. Lucier grava sua própria voz lendo um texto, reproduz e regrava esse áudio repetidas vezes no mesmo ambiente, até que as palavras se tornam irreconhecíveis, restando apenas as ressonâncias naturais do espaço. O processo é explicado pelo próprio artista: “so that any semblance of my speech, with perhaps the exception of r-r-r-rhythm, is destroyed” (de modo que qualquer semelhança com a minha fala, talvez com exceção do r-r-r-ritmo, seja destruída). Com isso, Lucier antecipa a transformação da fala em puro som ambiente, onde o ritmo e as frequências do local substituem o conteúdo verbal.

O fato de Lucier ser gago traz um aspecto pessoal importante à obra. Ele mesmo afirma que vê essa atividade “not so much as a demonstration of a physical fact, but more as a way to s-s-smooth out any irregularities my speech might have” (não tanto como uma demonstração de um fato físico, mas mais como uma forma de suavizar quaisquer irregularidades que minha fala possa ter). Assim, a peça se torna uma reflexão sobre identidade, comunicação e aceitação das próprias limitações. Ao explorar a relação entre voz, tecnologia e ambiente, Lucier questiona o que permanece da comunicação quando a individualidade da voz desaparece, revelando a musicalidade própria do espaço e do som.