Então Volta (part. Kell Smith)

“Então Volta (part. Kell Smith)”: dor, diálogo e retorno

Um detalhe sutil revela dois pontos de vista na faixa “Então Volta (part. Kell Smith)”: a letra alterna “mim mesmo” e “mesma”, sinal de duas vozes narrando a mesma ruptura. Na parceria, isso vira diálogo e reforça o tema clássico de Amado Batista — a dor da separação e o pedido de reconciliação — com a sensibilidade contemporânea de Kell Smith fazendo o contraponto afetivo. A narrativa é direta: quem canta fala com quem foi embora, mostra o corpo marcado pelo choro (“olhos vermelhos”, “peito ferido”) e admite não saber seguir sem a outra pessoa. “Eu preciso fugir de mim mesmo” soa como tentativa de escapar das lembranças, um gesto impossível que acentua a sensação de estar sem rumo. O refrão — “Então volta, volta / A vida sem você não tem nada a ver” — funciona como súplica repetida, transformando a dor em mantra para convencer o outro a voltar.

O contexto do álbum Em Casa, gravado no estúdio particular de Amado Batista em Goiânia, na fase final da pandemia, dá peso extra a versos como “só eu mesma chorando em silêncio”: o clima intimista e de recolhimento espelha a solidão daquele período. Fiel ao repertório do artista, a composição de Cícero Vieira e Marcos Paz aposta em imagens simples e físicas da saudade para falar de reconciliação, enquanto a divisão de falas entre Amado e Kell mostra que a falta atinge os dois lados. No fim, tudo converge para a mesma mensagem: a vida perde sentido sem o outro, e a única saída desejada é o retorno.