Tudo Eu

Ruptura, culpa e vulnerabilidade em “Tudo Eu” de Amiri

O refrão “Tudo eu” não é só queixa; é autocrítica. O eu lírico sente que carrega a relação nas costas e também a culpa pelo que desandou. A faixa expõe a vulnerabilidade masculina que tenta se esconder — “Menos te deixar me ver frágil”. O clipe reforça essa chave: Amiri aparece como Mfalme, desabafando com o amigo Aden, enquanto a poesia inicial de Mel Duarte (que interpreta Layla) amplia a perspectiva do término e contextualiza o peso emocional que virá.

A narrativa é de quem ficou para trás e rumina o fim, pedindo perdão até pelo que escapa ao seu controle: “Me perdoa por você ter ido cedo / Me perdoa por eu ter sentido medo”. Ele revisita promessas quebradas — “prometi não prometer” — e registra o contraste entre esforço e invisibilidade: “Eu nunca fiz tanto… Mas você não vê”. O “teu silêncio me diz tanto” indica que ela já seguiu. Em “Tudo eu / Você doeu”, o trocadilho aponta para a sobrecarga e para a dor internalizada. As imagens concretizam a perda: “Você desagua em mim, e eu, oceano”; depois do fim, “tô secando” — antes vasto, agora minguado. A colheita invertida (“pensando no que plantei / enquanto eu colhia pranto”) e o exagero das promessas (“eu pararia chuvas… traria o Sol de noite”) revelam a distância entre intenção e efeito, deixando “cicatrizes”. O tempo se desajusta — “Mesmo cedo, pareceu tarde” — e o corte na fala (“Fez eu me sentir em me– Não!”) encena a rachadura da identidade. Entre repetição de esforço sem reconhecimento e silêncio do outro, sobra alguém tentando seguir, frágil mas honesto, com o que restou.