Lárgate

Ironia e libertação feminina em “Lárgate” de Ana Mena

“Lárgate”, de Ana Mena, transforma a raiva e a frustração de um término tóxico em uma narrativa marcada por humor negro e ironia. A artista subverte o papel tradicionalmente passivo da mulher nas músicas de desamor ao usar frases como “tengo diez mil maneras para matarte” (tenho dez mil maneiras de te matar) e listar objetos como machado, veneno e pistola. Esses elementos não são literais, mas sim metáforas intensas para o desejo de se livrar do ex-parceiro e do sofrimento causado por ele. O videoclipe reforça essa abordagem simbólica ao mostrar Ana Mena convivendo com o cadáver do ex, usando referências de suspense e humor ácido para transformar a vingança em catarse emocional, não em violência real.

A letra também inverte papéis e provoca, ironizando a objetificação feminina comum em músicas compostas por homens, como a própria Ana Mena comentou em entrevistas. Ao cantar “te escribí una canción aunque no suene en la radio” (escrevi uma música para você, mesmo que não toque no rádio), ela mostra que sua resposta é um desabafo pessoal, sem buscar validação pública. O refrão “lárgate, que ya no puedo verte de frente” (vá embora, não consigo mais te encarar) marca o limite atingido na relação, enquanto a repetição de “tengo diez mil maneras para matarte” serve como exagero dramático para expressar o desejo de apagar o ex da própria vida. Assim, “Lárgate” usa exagero, ironia e referências culturais para transformar o fim de um relacionamento em um manifesto de libertação e autodefesa emocional, marcando uma fase mais ousada e pessoal na carreira de Ana Mena.