Mulher Ingrata

Noite de bar, culpa e ruptura amorosa em “Mulher Ingrata”

Em “Mulher Ingrata”, ele condena a amada como “ingrata”, mas assume parcela da culpa: “Fui o culpado em ser sincero”. O bar vira cenário de prova e lembrança. O cinzeiro cheio, a taça “que com meu dinheiro foi que paguei” e o “canto” onde falou o nome dela materializam mágoa e abandono. Isso dialoga com o sertanejo tradicional de buscar consolo no álcool após ser deixado, reforçado por “Na mesa daquele bar”. A ingratidão está explícita em “Desprezando tudo que eu lhe dei”, enquanto “me maltratando com ironia” adiciona humilhação: além de rejeitado, ele se sente ridicularizado. Fiel ao sertanejo raiz que André & Andrade preservam há mais de 40 anos, a canção usa linguagem direta de boteco para narrar o choque entre ressentimento e confissão de culpa.

Os objetos do bar viram símbolos claros. O cinzeiro lotado mede o tempo do sofrimento e o desgaste da paciência; a taça indica gasto e autopunição; o “canto” marca o isolamento de quem rumina o passado. “Regalia” sugere que ele a mimou além da conta e lê o desprezo como resposta. Em “meu castigo é por amar” há ironia amarga: o amor vira pena. O verso “com capricho comigo judia” usa “judiar” no sentido popular de maltratar, reforçando a sensação de perseguição emocional. A repetição de “Aquela boca que já beijei / Hoje por maldade me nega bom dia” condensa o drama num gesto banal: o beijo virou silêncio, a intimidade virou indiferença. No conjunto, é um desabafo seco sobre ingratidão, desprezo, culpa assumida e amor ferido, alinhado à tradição que dá voz às dores do homem comum.