Carolina IV

Espiritualidade e travessia em "Carolina IV" do Angra

Em "Carolina IV", o Angra inicia a música com uma invocação a Iemanjá e Janaína, destacando a forte ligação com a religiosidade afro-brasileira e a espiritualidade do mar. O costume de jogar flores ao mar para Iemanjá, citado na letra, é um ritual tradicional de agradecimento e pedido de proteção, reforçando o respeito diante dos perigos da travessia oceânica. Essa escolha conecta a música ao propósito do álbum "Holy Land", que busca celebrar a diversidade cultural e as raízes brasileiras.

A narrativa acompanha a tripulação do navio fictício Carolina IV, representando as expedições marítimas em busca do Novo Mundo. O mar funciona como cenário e metáfora para transformação, medo e esperança. Trechos como “All I see floats with the wind / All the miracles of the water / Are the miracles never seen” (Tudo o que vejo flutua com o vento / Todos os milagres da água / São milagres nunca vistos) mostram a travessia como um mergulho no desconhecido, onde milagres e tragédias se misturam. A perda de um tripulante e o sentimento de culpa e saudade – “Nothing much left from the boat / Still I can't forget the past / And the ones I left at home” (Não sobrou muito do barco / Ainda não consigo esquecer o passado / E aqueles que deixei em casa) – humanizam a jornada, mostrando o preço emocional das descobertas.

A música mistura ritmos brasileiros, percussão inspirada no Olodum e referências a Hermeto Pascoal, ampliando o sentido de miscigenação e encontro de culturas. As reflexões existenciais e espirituais da letra sugerem que a verdadeira jornada é interna: “Feels like the flood of my needs / From the harmony of forever / Sound the melodies of the sea” (Sinto como a inundação das minhas necessidades / Da harmonia do eterno / Soam as melodias do mar). O retorno ao mar, ao final, simboliza aceitação do destino e busca de paz, enquanto a saudação a Iemanjá se repete como um mantra de entrega às forças da natureza e da ancestralidade.