Perdoa

Encantamento e risco no amor de “Perdoa”, dos Anjos

O refrão de “Perdoa” não soa como mea-culpa; é um pedido de licença para amar sem travas. O eu lírico fala direto à pessoa amada, consciente do “pedir demais” e do impulso de entrega: “Perdoa se me quero dar”. Diz ter sido tomado pela luz, pelos olhos e pelo beijo dela, o que define um tom de encantamento com fragilidade. A idealização surge com imagens complementares: “Tu foste o meu mar / Quis ser o teu sol” e “Tu foste a lua / Noite quis ser”. Ainda assim, há lucidez sobre o risco: “Se nunca mais te encontrar / Fui feliz enquanto pude ser”. Esse contraste sustenta a emoção central e o “Perdoa…” se repete como apelo terno e urgente para que esse amor seja acolhido.

Os cenários de mar, sol, lua, montanha, praia e amanhecer reforçam ciclo, parceria e renascimento, além de um erotismo discreto em “a praia do teu corpo” e nas “pegadas da minha paixão”. As referências culturais adensam o romantismo com leve melancolia: “Tu, Julieta… amar-te como amou Romeu” dramatiza o amor absoluto e arriscado; “Se em mim picou a seta… de um tal Cupido” indica o golpe inevitável do desejo; “Pra nós Camões criou a ilha dos amores” convoca a utopia de Os Lusíadas; “Também pra nós Amália cantou o fado” traz o fatalismo emotivo do fado. Ao dizer “Se fui poeta / Mal entendido”, o narrador reconhece que a hipérbole amorosa pode soar excessiva, mas afirma sua sinceridade. No todo, “Perdoa” costura encantamento, vontade e medo de perda, pedindo espaço para amar.