Hino do Sínodo Pan-amazônico

“Hino do Sínodo Pan-amazônico”: fé, águas e resistência

Na canção de Antonio Carlos, as imagens da vazante, do plantio e do barco constroem um calendário espiritual e político: viver na Amazônia é ajustar a vida ao ritmo das águas para enfrentar a ganância. Ao invocar “Laudato Si’ (louvado sejas)” e a “Igreja samaritana”, a oração ecológica vira convocação comunitária, com os ribeirinhos como “guardiões da nossa casa comum”. Inspirada pela encíclica do Papa Francisco e pelo Sínodo Pan-Amazônico (2019), a letra absorve noções de ecologia integral (“Cosmo da ecologia integral”) e ancora o presente na longa memória dos povos: “10 mil anos de história / Pan-Amazônia ancestral”. O ciclo do rio guia trabalho e esperança — “Na vazante do rio / todos se põem ao plantio” —, a “colheita” precisa vir “antes das águas revoltas” e “sei onde vou aportar o meu barco” expressa prudência e proteção coletiva. A fé é força cotidiana: “Cristo é semente de luta e de paz” une o gesto agrícola ao compromisso solidário.

As referências franciscanas — “Irmão Sol, irmão Lua” — dialogam com cosmologias locais — “É Deus Tupã que reclama” —, aproximando tradição católica e espiritualidades indígenas na defesa da criação. O chamado à justiça aparece quando a “Igreja samaritana” se assume “contra-cultura da grana”, denuncia “tantas feridas abertas / no seio da floresta e a ganância” e convoca cada pessoa — “É Francisco chamando um a um” — a cuidar do território e de seus povos. Embora a canção tenha circulado como “hino” do Sínodo, a REPAM esclareceu que não há hino oficial; é uma expressão artística inspirada por esse processo e pela Laudato Si’, reforçando seu caráter de canto-partilha: simples, comunitário e comprometido com a casa comum.