Cabeça Cheia (feat. Plutónio)

Contrastes e resistência em “Cabeça Cheia (feat. Plutónio)”

Em “Cabeça Cheia (feat. Plutónio)”, Apollo G retrata de forma direta a realidade dos jovens das periferias urbanas portuguesas. O verso repetido “Garrafa vazia, mas cabeça cheia” destaca o contraste entre o vazio material e o excesso de pensamentos, preocupações e pressões. Expressões como “tenho coca pura dentro dessas veias” e “graminhas dentro dessas meias” podem ser interpretadas tanto literalmente, abordando o envolvimento com drogas e o tráfico, quanto como metáforas para a adrenalina e o risco constante da vida nas ruas, temas frequentes nas músicas de Plutónio e Apollo G.

A letra aborda questões como a ausência dos pais, a violência policial — “Polícia na zona puxa do canhão / Encosta a parede, revista os irmãos” — e a ameaça constante de prisão ou morte. O trecho “Motivos p'a bifes eu tenho demais / Bagagem na luta dos meus ancestrais” conecta as dificuldades atuais à herança de resistência, enquanto versos como “putos são dealers na ausência dos pais” e “cansado de ver mães e gritos ao ver seus filhos dentro de um caixão” reforçam o ciclo de marginalização e perda. Apesar do tom pesado, há espaço para esperança e ambição, como em “acredito que ganhei juízo p'a mudar tudo isso e sonhar com um milhão”, mostrando o desejo de superação. A música, alinhada ao álbum “Preto & Vermelho”, funciona como um retrato honesto das vivências e desafios da juventude periférica.