As Coisas

A inquietação do mundo material em “As Coisas” de Arnaldo Antunes

Em “As Coisas”, Arnaldo Antunes utiliza a repetição quase obsessiva de características e funções dos objetos para criar um inventário do mundo material. A letra enumera diversos elementos do cotidiano de forma direta e simples, refletindo uma tentativa de esgotar todas as formas de descrever o que nos cerca. No entanto, ao concluir com a frase “as coisas não têm paz”, o artista destaca um contraste importante: mesmo diante de tanta catalogação e racionalização, permanece uma inquietação fundamental. Isso sugere que, por mais que tentemos compreender e organizar o universo ao nosso redor, existe algo nas coisas que escapa à explicação lógica e permanece em constante movimento ou insatisfação.

O contexto da criação da música é relevante: Arnaldo Antunes se inspirou na convivência com sua filha pequena, buscando uma perspectiva infantil e direta para enxergar o mundo. A estrutura da letra, com frases curtas e repetitivas, reforça essa visão descomplicada, como se fosse um exercício de aprendizado ou descoberta. No entanto, a repetição do verso “as coisas não têm paz” aponta para uma reflexão mais profunda sobre a existência. A música sugere que a materialidade, por si só, não traz sentido ou tranquilidade, e que sempre há uma falta de completude. Assim, “As Coisas” funciona tanto como um inventário poético do mundo físico quanto como uma reflexão sobre a inquietação inerente à existência das coisas.