Clara Crocodilo

Alienação urbana e paranoia em “Clara Crocodilo” de Arrigo Barnabé

Em “Clara Crocodilo”, Arrigo Barnabé usa a transformação de um office boy em uma criatura monstruosa como metáfora para a alienação e a desumanização nas grandes cidades, especialmente São Paulo. Logo na introdução, a música simula um anúncio de rádio, criando um clima de suspense e paranoia: o ouvinte é alertado de que “o pesadelo começou” e que Clara Crocodilo, “o perigoso marginal”, está à solta. Essa ambientação remete ao medo coletivo do desconhecido e à insegurança urbana, temas marcantes da Vanguarda Paulista e do álbum como um todo.

A letra mistura narrativa fragmentada, falas diretas e imagens surreais para construir uma atmosfera de perseguição e marginalização. Trechos como “Não vou morrer nas mãos de um tira” e “Metralhadora não me atinge” mostram a resistência diante de um sistema opressor. A repetição de perguntas sobre o paradeiro de Clara Crocodilo sugere tanto a busca por um inimigo externo quanto a ideia de que esse “monstro” pode ser uma parte reprimida do próprio indivíduo ou da sociedade. O contexto da mutação genética do personagem simboliza a perda de identidade e a adaptação forçada ao ambiente hostil da metrópole, tornando Clara Crocodilo um símbolo da marginalidade e do medo urbano.

Assim, a música critica a paranoia, a violência e a exclusão social nas cidades, usando suspense e absurdo para reforçar a incerteza sobre quem é o verdadeiro “monstro”: alguém nas ruas ou algo dentro de cada um, pronto para emergir diante das pressões da vida moderna.