She's a 10 But

Hedonismo e status urbano em “She's a 10 But”, de ARTAN

Em “She's a 10 But”, ARTAN transforma até o sotaque em “defeito” que derruba a nota: “She would be a ten if it weren’t for the accent” (Ela seria nota dez se não fosse o sotaque). Ele se apresenta como “a simple man” (um homem simples), mas a narrativa desmente: Hennessy, maconha premium e um desfile de marcas dão o tom hedonista que ecoa a lógica da web. O cenário é Birmingham (“Brum”), com o Bullring como ponto de encontro, e o foco no corpo aparece no imperativo: “spin ’round and show ’em the mad ting” (gira e mostra pra eles a doideira).

A vibe é de folga eterna, ressaca e memória turva: “Day off, course I’m not sober” (Folga, claro que não estou sóbrio) / “Been high since like November” (Estou chapado desde, tipo, novembro) / “I don’t quite remember” (Não lembro direito). O “amor” vira automático: “Told her I love her, but she don’t believe me” (Disse que a amo, mas ela não acredita). E o estresse é gatilho de consumo: “when I’m stressed out, I wrap me a gram” (quando estou estressado, enrolo um grama). Status e dinheiro viram métrica: “Prefer life with racks in my bank” (Prefiro a vida com pilhas de dinheiro no banco) / “hundred bags” (cem mil) / “I’ll be paid in cash” (Serei pago em dinheiro vivo), somados ao currículo: “been signed to a label” (fui contratado por uma gravadora) / “million streams in a year” (um milhão de streams em um ano). As marcas reforçam a imagem: ela prefere LV a Anthony Wang; ele recusa Yeezy e Adidas, “three stripes” (três listras), cogita Loubs e some tipo Elon. O vocabulário de Brum traz duplos sentidos: “link” (contato/ficante), “ting” (mina), “loud, it’s TT” (erva potente, top de linha) e “Nina, she a speaker” (Nina, ela faz barulho) — “Nina” é gíria para pistola 9mm, “speaker” sugere volume. No fim, a atração vira checklist e frustrações existem — “Two girls that I can’t get back” (Duas garotas que não consigo recuperar) —, mas nada freia o corre hedonista.