superstar

Entre brilho e dependência em “superstar”, de Artemas

O refrão de “superstar”, de Artemas, soa menos como elogio e mais como confissão de inferioridade: ele fantasia “ser uma obra de arte” para estar à altura do que vê. Ao chamar o outro de “superstar”, a canção encena um palco em que desejo vira vício e afeto se mistura com consumo. O olhar idolatra a “beleza que dói” e o “design” do outro, tratando-o como peça expositiva e inalcançável. Isso dialoga com a estética de Artemas — pop alternativo com dark wave, R&B sombrio e traços de grunge — na qual glamour e escuridão colidem: a imagem seduz, fere e cria carência. A narrativa progride do fascínio à dependência: primeiro o deslumbramento, depois a necessidade de mais um “hit”, até ele admitir estar “na palma da mão” do parceiro.

As metáforas de vício explicitam controle e vulnerabilidade. “Cocaine off your body, so I’m sober now” (cocaína no seu corpo, então estou sóbrio agora) traz duplo sentido: o corpo vira a “droga” e, paradoxalmente, isso é chamado de “sobriedade”, como se só esse contato acalmasse a abstinência emocional. “Smoke me like the cigarette” (me fume como um cigarro) reforça a ideia de ser consumido e descartado; “choke me” (me sufoque) pode ser jogo sexual e também o sufoco psicológico de uma relação desigual. A palavra “kryptonite” (kryptonita) marca a fraqueza inevitável, enquanto “can you feel my heart beat?” (você consegue sentir meu coração bater?) mistura euforia e ansiedade. No conjunto, “superstar” é carta de amor obcecada e alerta: o brilho que atrai também domina, vicia e mantém a incômoda sensação de nunca ser suficiente.