Você Escolheu Errado Seu Super Herói

Desejo e ironia em “Você Escolheu Errado Seu Super Herói”

A canção de As Frenéticas faz jogo de espelhos com os “heróis” desejados e desejantes, cruzando identificação e tesão. Ao mesmo tempo, dá uma bronca bem-humorada em quem idolatra poder bruto e predatório, condensada no refrão martelado “Você escolheu errado o seu super-herói”. Fiel ao espírito libertário e debochado do grupo nos anos 1970, a letra usa referências da cultura pop para perguntar que tipo de ídolo a gente elege — e se ele combina com nossos valores e desejos.

As citações constroem o choque de modelos. Átila, “o flagelo dos deuses”, aparece como fantasia de destruição — “Varrendo o mundo a ferro e a fogo” — que a música satiriza como pose vazia. O Conde Drácula encarna sedução predatória, “chupando o sangue da virgem”, mas encontra resposta de força e autoproteção: “com minha cruz de prata / Vou deixar você mais amassado que uma lata”. Em contraste, os heróis preferidos são lúdicos e sensuais: “Sou mais o homem-aranha”, com a “teia” também como metáfora de atração; e “Sou mais a mulher maravilha”, símbolo de poder feminino e desejo (“lindona, sexy, gostosa”). O humor pop mistura clichês (“espada de um samurai”, “haikai”) e até confunde jargões de HQ (“Gama, suor e façanha”), acentuando a paródia. O clima é de pique, ironia e flerte: alguém avisa a um parceiro — ou à cultura em volta — que chega de posar de tirano ou vampiro galante. O coro repetido e o nonsense “Ma que ma me dó!” ampliam o deboche e reforçam o recado: ídolos importam, e insistir nos violentos é que é a verdadeira mancada.