Amnesia

Memória, limites e autopreservação em “Amnesia”, de Asiah

Amnésia aqui opera em dois sentidos: ela acusa o ex de ter esquecido o que recebeu e, ao mesmo tempo, quer apagar as próprias lembranças para seguir. A cura vira limite: ao enxergar os demônios dele, ela recusa salvá‑lo e vai embora. Na faixa Amnesia, do álbum Into the Light, Asiah encara um relacionamento tóxico e o impulso de apagar memórias dolorosas. Isso aparece em linhas como “Delete all of your photos” (Apague todas as suas fotos), “Too much money I blow” (Torro dinheiro demais) e “Now I’m numbing my feelings” (Agora eu anestesio meus sentimentos). A repetição “Did you forget how I pleased ya/and then you left me bleeding” (Você esqueceu como eu te satisfazia/e depois me deixou sangrando) expõe a traição e o descompasso entre entrega e retorno; “For your pain I was the bandage” (Para a sua dor eu fui o curativo) confirma o papel de cuidadora não reconhecido.

A narrativa parte do prejuízo — “I end up with nothing/traumas and losses” (Termino sem nada/traumas e perdas) —, passa por um pedido de amparo espiritual — “I ask God almighty/My soul needs enlightenment” (Eu peço a Deus todo‑poderoso/minha alma precisa de iluminação) — e muda quando chega a ação: apagar fotos, manter o orgulho e sair — “I kept my pride/I took my shit and left you” (Eu mantive meu orgulho/peguei minhas coisas e te deixei). O conflito é entre o vício de permanecer e a decisão de se proteger; a resolução vem com o corte definitivo e o recado duro: “Who’s gonna help you now, ’cause I won’t be here” (Quem vai te ajudar agora, pois eu não vou estar aqui). Fiel ao R&B/Soul intimista de Asiah, Amnesia transforma o desejo de esquecer em gesto de luz: deixar o passado e impor limites para sobreviver.