O Parque Chora

Dor coletiva e violência em "O Parque Chora" do Atitude Consciente

"O Parque Chora", do Atitude Consciente, retrata de forma direta o ciclo de violência que afeta jovens das periferias, especialmente no Parque São João, em Campo Mourão. A letra destaca o luto coletivo como protagonista, mostrando que a morte de um jovem não é apenas uma tragédia individual, mas um trauma que atinge toda a comunidade. O verso “O parque chora, chora, e hoje chora lágrimas de sal / Enquanto a morte ronda a baixada de fal” transforma o próprio bairro em um personagem que sente e sofre, reforçando como o espaço urbano absorve a dor dos moradores.

A música narra a trajetória de um jovem que, diante da falta de oportunidades, acaba se envolvendo com o crime e se torna vítima da mesma violência que o cercava. Referências como “caixão de madeirite” e “seu caixão ainda nem foi pago” evidenciam a precariedade social e a ausência de amparo até nos rituais de despedida. O grupo Atitude Consciente utiliza a letra para denunciar a marginalização e as desigualdades sociais, mostrando que escolhas trágicas muitas vezes são consequência de um ambiente hostil e sem perspectivas. O trecho “Agora é tarde pra voltar atrás, tarde pra escutar conselho / É tarde pra matar, o inimigo te matou primeiro” resume a falta de alternativas e a fatalidade que marcam essa realidade.

A canção também aborda a traição entre parceiros de crime, como em “A cobra deu o bote, traiu, você nem viu”, mostrando que a violência pode vir de dentro da própria comunidade. O clima de funeral e a repetição do luto reforçam a atmosfera de tristeza e resignação, enquanto a reflexão sobre o “prêmio da vitória” questiona se o caminho do crime realmente vale a pena. "O Parque Chora" é um retrato sincero das consequências do abandono social e da violência estrutural nas periferias brasileiras.