Power Over Me

“Power Over Me”: desejo, controle e prisão interna

O refrão alterna “coração” e “mente” como forças de captura, indicando que o “poder” não é só do outro, mas também de uma prisão já internalizada. Em “with my defences open wide” (com minhas defesas escancaradas) e “I’ve got nowhere to hide” (não tenho onde me esconder), resistência e entrega se confundem: ao tentar se proteger, ele se expõe e fica mais vulnerável. As imagens repetidas — “stare at the wall” (encarar a parede), “ghosts inside my head” (fantasmas dentro da minha cabeça), “the words are just too hard to find” (as palavras são difíceis demais de encontrar) — retratam um cotidiano paralisado. O refrão “You’ve got a power over me” (você tem poder sobre mim) liga desejo e dominação afetiva: ele admite “I wanna run from you” (eu quero fugir de você), mas não consegue negar, preso a “everything you said” (tudo o que você disse). Isso se alinha ao álbum Power (1994), da banda britânica de AOR Atlantic: a luta para se libertar de uma relação dominante aparece de forma clara em “my heart won’t set me free” (meu coração não vai me libertar) e “’cause my mind won’t let me be” (porque minha mente não vai me deixar em paz).

A forma reforça o conteúdo. A estética AOR da Atlantic, com o vocal emotivo de Phil Bates e refrões melódicos e repetidos, transforma a fixação em ciclo: a repetição martela a compulsão, como se cada tentativa de “break away” (se libertar) só reafirmasse o laço. O jogo entre mente e coração varia nos refrões — alternando “my heart won’t set me free” (meu coração não vai me libertar) e “my heart won’t see me free” (meu coração não vai me ver livre), em contraste com “’cause my mind won’t let me be” (porque minha mente não vai me deixar em paz) —, acentuando que a força de atração já atua por dentro. Assim, “Power Over Me” retrata dependência emocional, onde desejo, memória e medo de perda se enroscam. O relançamento pela Escape Music em 2008, com faixa bônus, ajuda a explicar a permanência do tema: a canção perdura por transformar um conflito íntimo comum em um gancho melódico que não solta, como a própria história que narra.