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Cães de Raça (part. Guto)

Azagaia

LetraSignificado

    Eu sou mulato, né? Sou mulato sem bandeira
    Desde a guerra colonial que não tenho trincheira
    Pai branco intelectual, mãe preta lavadeira
    Quis ser igual a ele, mas sem esquecer minha parteira
    Quis ser progressista, chamaram-me exclusivista
    Quando pedi ao fascista Salazar que me chamasse português
    Que eu até era benfiquista, bebia vinho do porto e até era racista

    Mas também fui independentista, revolucionário intelectual, mafalalista
    Deu lugar a Craveirinha passando por Noémia de Sousa
    Quem disse que a minha vida é só boémia?
    Na tuga o assimilado, português de segunda
    Na terra, condenado a mecânico ou prostituta
    Ninguém vence a minha luta
    Se a mulata arranja job dizem que deu a fruta
    E quem convence que a má conduta de um mulato que acelera carros
    Não é minha culpa
    Não é minha culpa do look que trago em mim
    De dia odeiam-me
    De noite amam-me
    Vamos duma vez acabar com as farsas
    Mulato é o ódio e o amor entre as raças

    Eu sou um cão de raça
    Aqui só passa a minha raça
    Aqui só passa a minha raça
    Cadela de raça
    Aqui só passa a minha raça, raça

    Eu sou um cão de raça
    Aqui só passa a minha raça
    Aqui só passa a minha raça
    Cadela de raça
    Aqui só passa a minha raça, raça

    Eu sou preto da senzala a morar numa favela
    Sou dono da terra sem nunca ter mandado nela
    Com os amigos quero paz, com os irmãos faço guerra
    Por isso, sou explorado na minha própria terra
    Eu sou o único rico que vive na miséria
    Vivo da pena que sentem de mim, vivo da miséria
    Enteado do mundo civilizado, filho da miséria
    Sonho para ver se acordo livre da miséria

    Expulsei colonos, mas nunca o colonialismo
    Vi a merda, baixei a tampa e não puxei o autoclismo
    Por isso é que a minha casa cheira mal
    Preto explora preto, cheira a tempo colonial
    Mas essa guerra vem do tempo tribal
    Traí pretos como eu para os brancos do litoral
    E os brancos no litoral fixaram a capital
    Puseram os filhos mulatos mais próximos do capital
    Por isso, pretos como eu que não podem ter a cor igual
    Batem-se para ao menos terem a cor do capital
    Mas deixem-me dizer-vos a verdade inteira
    A minha religião, irmãos, também é verdadeira
    A minha catedral é palhota da curandeira
    E África cura tudo, por isso é hospitaleira

    Eu sou um cão de raça
    Aqui só passa a minha raça
    Aqui só passa a minha raça
    Cadela de raça
    Aqui só passa a minha raça, raça

    Eu sou um cão de raça
    Aqui só passa a minha raça
    Aqui só passa a minha raça
    Cadela de raça
    Aqui só passa a minha raça, raça

    Eu sou branco, vivo das casas da zona chique
    Polana e Sommerchield, na garagem estaciono um Jeep
    Não sou bantu, mas há séculos que eu sou vip
    Nas terras de moçambique nasci, eu sou daqui
    Ou das terras de Portugal
    Ai, cruz credo, José e Maria, vinho e Bacalhau
    Futebol, clube do Benfica ou do Porto ou do Sporting
    Luso vanguardista no desporto
    Na vanguarda do investimento privado
    Dono da língua, dono da obra, dono das acções do Banco
    Dono da arrogância, mas deixa explicar um bocado
    É que desde a minha infância que sou bem tratado
    Cresci no ensino privado ou cheguei contratado
    Pretos e mulatos, meus primos subordinados
    Ou irmãos injustiçados, também sou Cardoso
    Branco suicida, Jornalista do povo
    Colonialista de novo, pago o preço da cor
    Da minoria que educou uma sociedade pela cor
    Luz verde no semáforo das raças
    Em caso de acidente, não estou no hospital das massas
    Branco bom patrão, na hora das graças
    Fascista oportunista na hora das desgraças

    Eu sou um cão de raça
    Aqui só passa a minha raça
    Aqui só passa a minha raça
    Cadela de raça
    Aqui só passa a minha raça, raça

    Eu sou um cão de raça
    Aqui só passa a minha raça
    Aqui só passa a minha raça
    Cadela de raça
    Aqui só passa a minha raça, raça

    Nós bhai é tudo irmão
    Nosso vida é fazer negócio, nosso política é alcorão
    Nós dar nome, esse país dar tempero e religião
    Mussa Bin Bique, rajá e mendi na mão
    Branco, preto e mulato é tudo cliente do coração
    Mas bhai só casar com bhai, nós manter nosso tradição
    Esse não é racismo não, pensa um bocado
    Nosso criança habituou ver preto como empregado
    Preto carregar saco, no loja, no armazém
    Preto não gostar salário, dizer que bhai é monhé
    Sim, bhai é monhé, monhé gosta mesquita
    Gosta carro com motor potente para fazer corrida
    Gosta dar esmola pobre quando chega sexta-feira
    Gosta amigo mulato, gosta fumo e bebedeira
    Mas essa brincadeira termina mês de jejum
    Num vai na discoteca, não faz formula um
    Usar cofió, esquecer garrafa de rum
    Esse mês é sagrado, bhai não faz mal nenhum
    Monhé dono da loja, sim, monhé comerciante
    Fazer dinheiro circular, ser bom negociante
    Monhé empresário, moçambicano de raiz
    Nós fazer funcionar economia deste país

    Eu sou um cão de raça
    Aqui só passa a minha raça
    Aqui só passa a minha raça
    Cadela de raça
    Aqui só passa a minha raça, raça

    Eu sou um cão de raça
    Aqui só passa a minha raça
    Aqui só passa a minha raça
    Cadela de raça
    Aqui só passa a minha raça, raça

    Enviada por Nelson. Revisões por 3 pessoas. Viu algum erro? Envie uma revisão.

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