1910 (part. Lourena, Nabrisa, Nobru Black, Thai Flow e Gabz)

Resistência e ancestralidade em “1910” de Azzy e convidadas

O título “1910” faz referência direta à Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, evento que propôs o Dia Internacional da Mulher. Essa escolha conecta a música à luta histórica das mulheres por direitos e igualdade, mostrando que o combate por justiça social é contínuo. O verso “Como se fosse em 1910, quebro a corrente dos pés e continuo a voar” (Lourena) reforça essa ligação entre passado e presente, destacando a persistência da luta feminina, especialmente das mulheres negras. A menção a Dandara e Zumbi dos Palmares (Thai Flow) traz para o rap figuras históricas de resistência, simbolizando coragem e enfrentamento à opressão.

A letra tem um tom combativo e de afirmação, denunciando a violência, o machismo e o silenciamento das mulheres. Versos como “Eles queimaram minhas asas, arrancaram minha inocência, só que a minha essência me fez ser essencial” (Nabrisa) e “Pode tacar fogo, eu resisto, eu insisto, eu sou chama” (Azzy) usam o fogo como metáfora de dor, mas também de força e renascimento, dialogando com a imagem da fênix e com a música “Girl on Fire” de Alicia Keys. A canção também critica a rivalidade feminina imposta socialmente, defendendo a união e o empoderamento coletivo. As artistas reafirmam a autonomia sobre seus corpos e trajetórias, como em “Meu corpo, minhas regras não é brincadeira” (Lourena) e “Entre minhas pernas é o fundo de um baú, reproduzem ouro” (Azzy), ressignificando a sexualidade feminina como fonte de poder. Referências a Frida Kahlo, Lilith e Tia Ciata (Gabz) ampliam as inspirações, mostrando que a força feminina atravessa gerações e contextos. “1910” se apresenta como um manifesto de resistência, orgulho e chamado à ação, reafirmando a importância da justiça, da equidade e da voz das mulheres no rap e na sociedade.