Caravaggio Com Colar de Gandhy

Identidade e resistência em “Caravaggio Com Colar de Gandhy”

Em “Caravaggio Com Colar de Gandhy”, Baco Exu do Blues constrói uma ponte entre referências da arte europeia e símbolos da cultura afro-brasileira. O título já revela essa fusão: Caravaggio, pintor italiano conhecido por retratar marginalizados, e o colar de Gandhy, símbolo de paz e resistência do bloco afro baiano Filhos de Gandhy. Baco utiliza essa dualidade para afirmar sua identidade, como quando se define como “a nova tropicália em fragrâncias, um baiano com o cheiro arrogante”, posicionando-se como herdeiro do espírito inovador da Tropicália e valorizando suas raízes baianas e negras.

A letra aborda temas como coragem, medo e superação, alinhando-se à ideia de humildade presente no álbum “HASOS”, inspirado na obra “Davi com a Cabeça de Golias” de Caravaggio. A frase inscrita na espada da pintura, “a humildade mata o orgulho”, ecoa em versos como “Eu só não vou me permitir a perder pro medo” e “Derrotas são passageiras, desistir que é pra sempre”, reforçando a busca por resiliência. Baco também provoca ao dizer “o homem é seu próprio demônio” e “o inferno é um copo de cólera, bebemos sem brinde”, sugerindo que os maiores desafios são internos. A tensão entre arte e violência aparece em “A guerra precisa de arte / Quando eu escrevo, Apollo dança com Ares / Sem ódio, a beleza não existe”, refletindo tanto a dramaticidade de Caravaggio quanto a experiência de Baco como artista negro no Brasil. Ao afirmar “Casa Branca pra mim é terreiro / Esses gringos colonos ainda procuram tempero / Dendê não se vende, não desistimos, ainda estamos aqui”, ele reafirma o orgulho e a resistência cultural diante da colonização. A música, assim, celebra a mistura de mundos e convida à reflexão sobre identidade, arte e luta coletiva.