Desgraça do Ano

Identidade e resistência em "Desgraça do Ano" de Baco Exu do Blues

Em "Desgraça do Ano", Baco Exu do Blues utiliza referências bíblicas e sociais para abordar a marginalização e a resistência. Ao se comparar a Dimas, o ladrão crucificado ao lado de Jesus, Baco se identifica com figuras historicamente excluídas, transformando o estigma em símbolo de força. Quando afirma: “Nós somos Dimas, ladrões, escritores de salmos”, ele destaca que, mesmo sendo julgados e marginalizados, ele e seus pares possuem espiritualidade e criatividade, desafiando a ideia de que são apenas "desgraçados". O refrão “Disgraçado, disgraça do ano” é apropriado como um grito de orgulho, invertendo o sentido negativo do termo e assumindo a condição de outsider como identidade.

A música também questiona estereótipos raciais e regionais, especialmente no verso “um preto nordestino fazendo clássico como Sabota tocando violino”. Baco desafia as expectativas sobre sua origem e cor, mostrando que pode criar arte sofisticada, assim como seria surpreendente ver Sabotage, referência do rap, tocando um instrumento clássico. Versos como “Nenhum funk é mais proibido do que minha vida” e “Facção Carinhosa minha vida” reforçam a dureza da realidade de quem veio “do meio do nada” e precisou se afirmar diante da violência e do preconceito. A participação de BK, com “Essas cicatrizes não permitem eu esquecer de onde eu vim”, reforça como as marcas do passado moldam a identidade e a resistência dos artistas, que transformam dor e exclusão em arte e afirmação pessoal.