Intro (part. KL Jay)

Ancestralidade e resistência em “Intro (part. KL Jay)”

Abrir o álbum “Esú” com “Intro (part. KL Jay)” mostra a intenção de Baco Exu do Blues de conectar sua música à ancestralidade africana e à história do povo negro no Brasil. O início, narrado por Paulo Roberto, destaca que o ritmo binário da música popular brasileira vem das “placas ardentes da África”, atravessando o Atlântico nos navios negreiros. Esse compasso carrega sofrimento, mas também resistência e identidade, lembrando que a base da cultura brasileira foi construída com o sangue e suor dos negros escravizados, como na metáfora “argila do divino mangue / suor e sangue / carne e agonia”.

Baco faz referências literárias e musicais para reforçar o orgulho e a luta negra. Ao citar “Capitães de Areia”, ele lembra a resistência dos jovens marginalizados de Salvador. Já a menção à “Asa Branca” de Luiz Gonzaga, dançando “no lago do Cisne Negro”, simboliza a mistura de heranças culturais e a busca por pertencimento. A imagem de “pretos de terno em festas que não sejam enterro” desafia o estereótipo de que o negro só se veste formalmente em funerais, reivindicando espaços de celebração e dignidade. O verso “A matéria é escrava do ser livre / A questão não é se estamos vivos (negro) / É quem vive” questiona quem realmente tem acesso à vida plena, apontando para as desigualdades raciais.

A participação de KL Jay, com scratches que remetem ao candomblé e à figura de Exu, reforça o sincretismo religioso e a espiritualidade afro-brasileira. Exu, “dono da rua” e mensageiro, é exaltado como símbolo de proteção e transformação, conectando a trajetória do povo negro à força dos orixás. Assim, “Intro (part. KL Jay)” apresenta os temas centrais do álbum: autoestima, individualidade, sincretismo e empoderamento negro, entrelaçando referências históricas, culturais e espirituais de forma direta e marcante.