Sinto Tanta Raiva...

Raiva, afeto e resistência em "Sinto Tanta Raiva..."

"Sinto Tanta Raiva...", de Baco Exu do Blues, explora como a raiva diante das injustiças sociais pode afetar até mesmo a forma de amar. Logo no início, o artista mostra que o afeto pode ser distorcido por experiências de opressão, tornando difícil até mesmo se permitir sentir amor. Baco também aborda a pressão de ser visto como símbolo, especialmente para homens negros, ao dizer: “Jovem demais pra ser representante de algo / Você se parece comigo, por que me vê como alvo?”. Esse trecho evidencia o peso das expectativas e o julgamento dentro da própria comunidade, reforçado pela crítica à cultura do cancelamento: “Negros fazendo outros negros serem cancelados”.

A canção propõe que cantar sobre o amor é um ato revolucionário para pessoas negras, desafiando a ideia de que só podem ser associadas à dor. Ao perguntar “Quantas vezes você já foi amado?”, Baco destaca a importância de celebrar o afeto e as conquistas como formas de resistência. O verso “Nossa gente vencer tem que deixar de ser raro” reforça a necessidade de normalizar o sucesso negro. Referências à polícia e aos ancestrais, como em “Me recordo dos meus ancestrais, todos continuaram”, mostram a continuidade da luta e a força herdada. A presença de Exu, orixá da comunicação, aparece nos versos finais em iorubá, conectando o artista à ancestralidade e à espiritualidade africana. Ao afirmar “Fiz milhões, continuei negro (surpreendente)”, Baco ironiza o racismo estrutural e reafirma o orgulho negro, transformando a música em um manifesto de resistência, orgulho e celebração da identidade negra.