Sober

“Sober” e o ciclo da dependência, confiança e perda

“Sober”, do Bad Wolves, alterna pontos de vista — primeiro quem convive com alguém em uso, depois quem tenta se recuperar — e daí vem a força do conflito. Tommy Vext disse que a faixa foi pensada para mostrar o vício por ângulos diferentes, algo que o clipe, ambientado numa reunião de recuperação, reforça. Nos versos iniciais, “I know you’re stoned” (Eu sei que você está chapado) e “For a moment I can wait / I’m holding on to hope” (Por um momento eu posso esperar / estou me agarrando à esperança) condensam espera e cansaço; “Thinking ’bout time” (Pensando no tempo) transforma o tempo em peso. No refrão, “’Cause you said you’re sober / Lying and I can’t get closer” (Porque você disse que está sóbrio / mentindo, e eu não consigo me aproximar) cristaliza a quebra de confiança e dispara o dilema “should I let you go?” (devo deixar você ir?). “On and on we pray” (Sem parar, a gente reza) ecoa a linguagem de grupos de apoio, conectando também à presença da música em Sno Babies. A metáfora física de agarrar-se à esperança aponta a tentativa de cura, enquanto “the struggle’s getting old” (a luta está ficando cansativa) expõe o desgaste do ciclo.

Depois, a perspectiva vira: “But I’m getting sober / Trying but I can’t get closer / Baby did you let me go?” (Mas eu estou ficando sóbrio / tentando, mas não consigo me aproximar / amor, você me deixou ir?) mostra quem tenta ficar limpo sentindo a distância e temendo abandono. A narrativa oscila entre segurar e soltar, do “Tell me should I let you go?” (Me diga, devo deixar você ir?) ao contraponto “I’m never gonna let you go” (Eu nunca vou deixar você ir). O formato de balada metal com violão e palmas dá tom confessional; o solo na ponte intensifica o pico emocional, e a mudança tonal do refrão final sublinha o fio de esperança em “So don’t say it’s over / Waiting here while you get sober” (Então não diga que acabou / esperando aqui enquanto você fica sóbrio). Pode soar como relação tóxica, mas o vocabulário direto, as orações repetidas e o histórico público de Vext com a adicção ancoram a canção na dependência, recaídas e impacto nos vínculos.