Cor Di Rosa

“Cor Di Rosa”: luz do entardecer, viagem e pertença

O traço mais bonito de “Cor Di Rosa” é como a “cor di rosa” (cor-de-rosa) do entardecer funciona como gatilho de memória e movimento, não só como paisagem. Quando o canto evoca “na mare di tardi” (na maré da tarde), essa luz desperta ao mesmo tempo a vontade de partir e de voltar — um fluxo típico da diáspora cabo-verdiana que a morna traduz em saudade. A letra ancora essa sensação na terra concreta: “nos distin é Djarfogu” (nosso destino é Djarfogu, a ilha do Fogo), que não se troca “ku nada nes munde” (por nada neste mundo). No refrão, ela é a cor que “traze-ne” (me traz) e “leba-ne” (me leva) para “nos morá” (nossa casa); e “es ta po-nu na stera” (eles nos põem nas estrelas) expressa o enlevo de reconhecer o próprio lugar. Termos como “fuska-fuska” (crepúsculo) e a imagem de “lima nobu” (mãos novas) ampliam o sentido: a luz reacende memórias e anuncia recomeço, orgulhosamente ancorado na identidade cabo-verdiana. Isso conversa com o papel de Bana, o “Rei da Morna”, de valorizar e difundir essa raiz cultural.

Há também um foco afetivo em “Mino, Mino di Mama” (menino, menino da mamãe), possível de ler de dois modos: como um chamado íntimo a uma pessoa amada ou como a interpelação a um filho/descendente, espelhando o cuidado entre gerações. Em ambos, prevalecem coragem e esperança — “koraja ta da-m” (me dá coragem) — diante de um mundo que “bira” (vira, muda), sustentadas pelo desejo de caminhar “so di mi ku bo” (só eu e você), juntos, com essas “lima nobu” (mãos novas). Assim, a canção costura beleza natural, saudade e orgulho de origem: a luz rósea que colore o mar ao entardecer e a memória que mantém Djarfogu irrenunciável.