Mufolhe

A migração e o valor da família em “Mufolhe”

A música “Mufolhe”, da Banda Kakana, aborda o dilema vivido por muitos moçambicanos que deixam o país em busca de melhores condições de vida na África do Sul, mas acabam enfrentando a dolorosa distância dos laços familiares. A letra, cantada em changana, destaca a oposição entre o "goodlife" prometido pelo trabalho no exterior e a impossibilidade de o dinheiro substituir o amor e a convivência familiar. Isso fica claro nos versos: “Akuna male yi xavaku lirandzu” (não há dinheiro que compre o amor) e “Akuna male yi xavaku uxaka” (não há dinheiro que compre o parentesco). A canção deixa evidente que a riqueza material não compensa a ausência dos vínculos afetivos.

A letra utiliza situações do cotidiano para mostrar a saudade e o vazio causados pela separação: o filho que só conhece o pai por fotos (“Oni vona hi svithombe”), a esposa que sofre com a distância (“Nsati wamina kumbexana vatekile”) e o próprio migrante sentindo o peso do tempo longe de casa. O contexto histórico da migração laboral moçambicana, especialmente para as minas sul-africanas, reforça o tom de desencanto, aproximando a música de obras como o poema “Magaíça”, de Noémia de Sousa. No final, a canção aconselha: “Makwerhu, tsama usvitiva lesvaku a lirandzu intxumo xalisima” (meu irmão, saiba que o amor é o bem mais precioso), ressaltando que, apesar das dificuldades econômicas, os valores familiares são insubstituíveis. “Mufolhe” se destaca como um retrato honesto das consequências emocionais da migração, valorizando o cotidiano e os sentimentos de quem parte e de quem fica.