X-Bacon (feat. Vanessa Jackson)

Desejo e poder em “X-Bacon (feat. Vanessa Jackson)”

A faixa transforma fast-food em ferramenta de poder: o prazer próprio vale mais do que performar para o outro. Quando dispara “Eu comi X-bacon, que é melhor que chupar seu peito”, afirma autonomia do desejo e zomba do parceiro. O vocabulário de comida — ketchup, bandeja, mastigar, baba, “me lambuzar” — vira metáfora sexual para um flerte propositalmente bagunçado. Há um vai e vem entre comando e recusa: “Você me dá trabalho / já cansei de você” demarca limites, enquanto “Me coloca na bandeja / faz de mim sua presa” encena submissão como jogo controlado. As imagens de saliva, o “ploc” e o lambuzo combinam gula e tesão, brincam com nojo e desejo e ainda expõem a ganância do outro (“Você quer mais que eu sei”) sem perder o deboche.

No disco Veneno (2015), a Banda Uó aposta no humor absurdo e no alto-astral — críticas chamam a letra de “absurda e perfeita” e a faixa de “divertida, ousada e insana” — e aqui isso vira estética de potência. A participação de Vanessa Jackson, convidada pela voz forte, injeta apelo de Black Music/Soul já apontado por quem analisou o álbum: os agudos e as respostas (“O quê que cê disse?”, “Ai, não fala assim comigo”) dramatizam o flerte e sublinham quem manda no jogo. O resultado é uma cena pop atrevida em que comida e corpo constroem desejo e poder em camadas: ela escolhe o sabor, impõe o ritmo e ri enquanto inverte expectativas.