Chamada Não Atendida

Desconexão e autocrítica em "Chamada Não Atendida"

Em "Chamada Não Atendida", Bárbara Tinoco explora a dor e a ironia de insistir em um relacionamento desigual. Logo no início, a narradora se reconhece como "masoquista" por continuar em uma relação cheia de regras e restrições, muitas vezes impostas por ela mesma, mas que acabam sendo quebradas. O título da música funciona tanto de forma literal quanto simbólica: além de se referir a ligações ignoradas, representa a falta de conexão emocional entre o casal e o isolamento que surge quando a comunicação se perde. A própria artista já afirmou que compor a canção foi como "arrumar uma casa desordenada", reforçando a ideia de tentar organizar sentimentos confusos após o fim do relacionamento.

A letra traz um tom irônico e melancólico ao mostrar as pequenas agressões do dia a dia, como críticas ao modo de vestir, ciúmes das músicas e a sensação de não ser reconhecida nem como artista, nem como parceira. Quando Tinoco repete "chamada não atendida, mais uma na tua lista", ela sugere que a protagonista não é a única a passar por esse ciclo, ampliando o sentimento de desvalorização. A música também aborda a perda de identidade, como na menção a deixar de ser feminista e mudar para agradar o outro. O trecho sobre "as raparigas que dormes cantarem as minhas canções no quarto" mistura ciúme, ironia e orgulho ferido. No final, o desabafo "dei-te um ano da minha vida, espero que a próxima dês tu" resume o desejo de reciprocidade e o aprendizado doloroso de uma relação que serviu mais como lição do que como fonte de felicidade.