Morto Por Dentro

Dor e abandono em "Morto Por Dentro" de Barrerito

"Morto Por Dentro", de Barrerito, expõe de forma direta o sentimento de abandono e inutilidade vivido por um homem que, após dedicar tudo a uma mulher, é deixado de lado quando não serve mais aos interesses dela. O verso “Vivo por fora, morto por dentro, sou um retalho / Que após usado jogaram fora junto a uma estrada” resume a sensação de ser tratado como algo descartável, sem valor após o uso. A metáfora do "retalho" reforça essa ideia de desprezo e perda de dignidade.

O contexto em que a música foi lançada é importante: Barrerito havia passado por um acidente que o deixou paraplégico, o que intensifica o peso emocional da letra. O artista, assim como o personagem da canção, enfrentava questões de perda, rejeição e reconstrução de identidade. A letra também aborda temas como envelhecimento, solidão e desilusão amorosa, especialmente quando o narrador conta que trabalhou duro para sustentar o luxo da parceira, mas acabou sendo visto como um "estorvo". O trecho “Não me apedrejem se me encontrarem pelas sarjetas / Nem me ofereçam uma cachaça num bar imundo” mostra o pedido de respeito diante da humilhação e do julgamento social. Ao se comparar a “um grão de areia menor do mundo”, o narrador expressa sua sensação de insignificância e perda de autoestima. Assim, a música vai além de uma história de desilusão amorosa, tornando-se um retrato sensível do abandono, da vulnerabilidade e da busca por dignidade.