gigolo

Em “gigolo”, bbno$ vira romance em performance de luxo

“gigolo” vira a lógica do romance: o homem é o “produto” e o afeto é descartável. O call-and-response do refrão — “He don’t love me”/“yes, I do” (ele não me ama/sim, eu amo) — transforma a tensão em piada e reafirma o descompromisso. A ideia central é direta: um “pretty boy” que banca o luxo com charme e presença, como no gancho “This the pretty boy anthem… You a certified gigolo” (este é o hino do bonitão… você é um gigolô certificado). Por isso a letra desfila consumo e status: “cute trip” (viagem estilosa), “cruise ship” (navio de cruzeiro), “Patek” (relógio Patek Philippe) e “caviar” (caviar). O clima é leve, hedonista e confiante, no humor irônico típico de bbno$, já visto em faixas como it boy.

As rimas e trocadilhos sustentam essa persona. O bloco do “azul” condensa dinheiro, potência e valor: “blue strips” (faixas azuis das notas de 100 dólares), “BlueChew” (medicamento mastigável para desempenho sexual) e “blue chips” (ações de primeira linha). Há acenos pop e duplo sentido: “call me by my name like I’m Lil Nas X” (me chame pelo meu nome como se eu fosse o Lil Nas X), referência a MONTERO; “green light district” (bairro da luz verde) parodia o Red Light District, trocando sexo por dinheiro; “I call her Dwayne… Johnson” (eu a chamo de Dwayne… Johnson) une The Rock a “Johnson” como gíria; “put it on her tab before givin’ her the tip” (coloco na conta dela antes de dar a gorjeta) mistura conta e insinuação sexual. Aparece humor sombrio e interesse material em “Threw me in her will, so I’m pickin’ out her coffin” (me colocou no testamento, então estou escolhendo o caixão dela), e o paradoxo de status em “I’m a trust fund baby, no money” (sou um herdeiro de fundo fiduciário, sem dinheiro). No fim, dinheiro, status, relações por interesse e autoestima hedonista se amarram numa autoironia: o protagonista sabe o jogo, vende beleza como moeda e transforma cada cidade em “Pound Town” (cidade da pegação).