Loser

O humor autodepreciativo e o retrato da geração em “Loser”

O refrão marcante de “Loser”, de Beck — “I’m a loser, baby, so why don’t you kill me?” (“Eu sou um perdedor, baby, então por que você não me mata?”) — nasceu de uma tentativa frustrada do artista de rimar como Chuck D, do Public Enemy. O próprio Beck admitiu que o resultado foi um desastre, o que acabou gerando uma ironia involuntária: a música, que se tornou símbolo da geração “slacker”, surgiu como uma piada interna sobre sua falta de habilidade no rap, e não como um manifesto intencional. O uso do espanhol em “Soy un perdedor” (“Sou um perdedor”) reforça o tom de deboche, misturando idiomas e culturas para destacar o absurdo da situação.

A letra apresenta uma sequência de imagens caóticas e referências pop, como “plastic eyeballs, spray-paint the vegetables” (“olhos de plástico, pinte os vegetais com spray”) e “dog food stalls with the beefcake pantyhose” (“barracas de ração com a meia-calça do fortão”), que não têm sentido literal, mas criam um clima de colagem surrealista, inspirado por artistas como Luis Buñuel. O verso “You can’t write if you can’t relate” (“Você não pode escrever se não consegue se identificar”) ironiza a busca por autenticidade artística, enquanto frases como “Savin’ all your food stamps and burnin’ down the trailer park” (“Guardando todos os seus cupons de comida e incendiando o parque de trailers”) brincam com estereótipos de marginalidade e fracasso. Ao negar um significado profundo, Beck acaba expondo o vazio e a confusão da cultura pop dos anos 90, tornando “Loser” um retrato involuntário e bem-humorado do desencanto daquela época.