Samba-Enredo 1989 - Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia

A Crítica Social Vibrante da Beija-Flor no Carnaval de 1989

O samba-enredo "Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia" da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis, apresentado no Carnaval de 1989, é uma obra repleta de críticas sociais e simbolismos. A letra da música, que acompanha o desfile, é uma ferramenta para expressar as contradições e as desigualdades presentes na sociedade brasileira, utilizando o carnaval como pano de fundo para essa reflexão.

A música começa com um refrão em iorubá, uma língua africana, que remete às raízes culturais do Brasil e à influência da religiosidade afro-brasileira. A letra prossegue fazendo uma analogia entre o luxo e a pobreza, comparando-os a areia e farofa, elementos que se misturam mas não se igualam, destacando a disparidade social. A expressão "xepa", que significa o que sobra nas feiras, é usada para ilustrar a figura do mendigo que, apesar de sua condição, se torna rei durante o carnaval, um momento de inversão de papéis e efêmera ascensão social.

O samba-enredo também aborda a efemeridade da festa e a realidade dura que retorna após o carnaval, com a imagem dos ratos e urubus à espreita, representando as forças que se aproveitam da vulnerabilidade dos mais pobres. A escola de samba, através de sua música, pede que deixem sua fantasia em paz, ou seja, que permitam a celebração do carnaval como uma forma de expressão cultural e artística livre das mazelas sociais. A Beija-Flor, com seu desfile, derrama na avenida os "frutos de uma imaginação" que busca não apenas entreter, mas também conscientizar e provocar reflexões sobre a realidade brasileira.