Paralelas

Solidão e desencontros urbanos em “Paralelas” de Belchior

A música “Paralelas”, de Belchior, utiliza a experiência do artista ao chegar ao Rio de Janeiro como pano de fundo para refletir sobre o distanciamento afetivo em meio à vida urbana. Imagens como “dentro do carro / sobre o trevo / a cem por hora” e “as paralelas dos pneus n'água das ruas” mostram como o movimento constante da cidade se relaciona com o afastamento emocional entre os personagens. Mesmo próximos fisicamente, eles se veem separados por rotinas e desejos diferentes. O impacto da primeira visita de Belchior ao Rio aparece nas referências a lugares como Corcovado e Copacabana, que, na canção, ganham um tom de solidão e busca por pertencimento: “No Corcovado, quem abre os braços sou eu / Copacabana, esta semana, o mar sou eu”.

A letra também destaca a tensão entre sucesso material e vazio afetivo, como em “E no escritório em que eu trabalho / E fico rico, quanto mais eu multiplico / Diminui o meu amor”. Essa oposição reforça a crítica à busca por conquistas externas em detrimento das relações pessoais. O verso “Como é perversa a juventude do meu coração / Que só entende o que é cruel, o que é paixão” — que substituiu uma versão anterior feita para Erasmo Carlos — evidencia uma juventude marcada por intensidade e escolhas dolorosas, onde o amor se mistura ao sofrimento. A repetição de “sou eu” ao final de alguns versos reforça a solidão e o desejo de ser notado em meio à multidão. “Paralelas” se destaca como um retrato sensível das distâncias criadas pela vida moderna, usando a cidade como metáfora para os desencontros do amor.