Pequeno Perfil de Um Cidadão Comum

Rotina e mortalidade em “Pequeno Perfil de Um Cidadão Comum”

"Pequeno Perfil de Um Cidadão Comum", de Belchior, faz uma crítica direta à rotina e à conformidade do homem comum. A música destaca como, mesmo seguindo todas as regras e buscando o sucesso, o cidadão acaba tendo o mesmo destino de todos: a morte. O verso “Vivia o dia e não o Sol / A noite e não a Lua” mostra que o personagem está tão preso à rotina que não percebe a beleza ou o significado do que vive, apenas cumpre obrigações diárias. Esse retrato é reforçado por trechos como “acreditava em Deus / E em outras coisas invisíveis” e “dizia sempre sim aos seus senhores infalíveis”, que evidenciam a aceitação passiva de crenças e ordens sem questionamento.

A letra também aborda a busca por um sentimento de dever cumprido, mesmo que isso seja ilusório diante da fragilidade da existência. A repetição de “era feito aquela gente honesta, boa e comovida / que caminha para a morte pensando em vencer na vida” ressalta a contradição entre o desejo de vencer e a certeza do fim. No desfecho, a chegada do “anjo do Senhor” e a morte levando o personagem “feito um pacote, no seu manto” reforçam que, por mais que se tente controlar a vida, todos estão sujeitos ao mesmo destino. Belchior propõe, assim, uma reflexão sobre o sentido da vida cotidiana e a inevitabilidade da morte, usando imagens simples para provocar empatia e identificação.