Ki Vida

Desejo e incerteza no amor em “Ki Vida” de Beto Dias

Em “Ki Vida”, Beto Dias explora a vulnerabilidade de quem espera por amor, mas teme ser enganado ou viver uma ilusão. O narrador pede repetidamente que a outra pessoa pense e tome uma decisão, mostrando sua insegurança diante da indecisão e frieza do parceiro. Isso fica evidente em versos como “Abo sénpri, sénpri bu mostra-m kuma inda bu ka sta pronta” (Você sempre, sempre me mostra que ainda não está pronta) e “bu fla-m m'era verdadi nunka bu ama-m” (você me disse a verdade, nunca me amou). O contexto cabo-verdiano, marcado por migrações e saudades, reforça o tema da espera e da incerteza amorosa, sentimentos presentes na vida de muitos em Cabo Verde e frequentemente abordados na obra de Beto Dias.

A música alterna entre esperança e resignação. O refrão “Imajina ki vida bela nu pode tinha si bu ta amaba mi” (Imagine que vida bela poderíamos ter se você me amasse) expressa o sonho de uma felicidade a dois, frustrado pela falta de reciprocidade. A decepção se intensifica quando a pessoa amada admite nunca ter amado de verdade, deixando o narrador com a dor e a sensação de que o tempo passa devagar, como em “Sima ténpu ta pasa léntu si tanbe k'es dór li un dia ta pasa” (Como o tempo passa lento, se também essa dor um dia vai passar). A escolha de uma linguagem direta e emotiva aproxima o ouvinte da sinceridade do sentimento, enquanto a mistura de ritmos tradicionais e contemporâneos reforça a universalidade do tema: o amor, suas dúvidas e as marcas deixadas quando não é correspondido.