Daddy Lessons

Raças, gênero e autonomia em “Daddy Lessons” de Beyoncé

Em “Daddy Lessons”, Beyoncé mistura elementos do country com sua identidade texana, desafiando as barreiras de gênero musical e questionando a presença limitada de artistas negros no country. A letra narra uma formação marcada por disciplina e força, usando imagens como motocicletas, blackjack e rifles para mostrar uma criação rígida, cheia de lições práticas para enfrentar o mundo. O refrão repetitivo – “my daddy said: Shoot” (“meu pai disse: Atire”) – funciona como metáfora para autodefesa emocional e física, mas também faz referência direta ao direito de se proteger, evocando o debate sobre o Second Amendment (direito ao porte de armas nos EUA), citado na letra: “Girl, it's your Second Amendment” (“Garota, é seu direito da Segunda Emenda”).

A relação com o pai, Mathew Knowles, aparece de forma ambígua, gerando especulações sobre experiências pessoais de Beyoncé, embora Mathew tenha negado qualquer agressão. A música vai além de uma história familiar, ampliando o significado das lições paternas para a sobrevivência feminina em ambientes hostis, especialmente diante de homens que representam ameaça, como nos versos “My daddy warned me about men like you” (“Meu pai me alertou sobre homens como você”). O conselho do pai – “shoot” – pode ser entendido como um chamado à ação, resistência e autonomia, principalmente para mulheres negras em um cenário musical e social que costuma marginalizá-las. A recepção controversa da música no country e sua rejeição pelo Grammy reforçam o caráter questionador da faixa, que usa tradição e cotidiano para desafiar normas e abrir espaço para novas vozes no gênero.