Rock Around The Clock

“Rock Around The Clock”: rebeldia juvenil e contagem do tempo

Em Rock Around The Clock, de Bill Haley & His Comets, o relógio vira a lógica da canção e sustenta uma rebeldia festiva. Embora não tenha sido a primeira do gênero, a faixa explodiu depois de entrar no filme Blackboard Jungle (1955), ajudando a popularizar o rock and roll mundo afora. A letra é um convite direto: "Put your glad rags on" (vista sua melhor roupa). A contagem das horas cria suspense e empolgação: "one" (um) dispara a noite; em "two, three and four" (dois, três e quatro), se a banda baixar o volume, o público pede mais; "five, six and seven" (cinco, seis e sete) viram "seventh heaven" (sétimo céu), o pico de euforia; com "eight, nine, ten, eleven" (oito, nove, dez, onze), a energia segue firme; ao bater "twelve" (doze), a turma esfria só para recomeçar. O refrão "We're gonna rock, rock, rock, 'til broad daylight" (vamos dançar rock até o amanhecer) crava a promessa de atravessar a madrugada.

Essa narrativa de hora em hora funciona como coreografia coletiva e como símbolo geracional: ritmo simples, repetição hipnótica e uma mensagem que qualquer um pode gritar junto. O impacto cultural vem da forma colada ao conteúdo — o ciclo do relógio espelha a ideia de festa contínua — e da execução intensa: gravada em sessão única em 1954, com o solo incendiário de Danny Cedrone (que morreria pouco depois), a faixa capturou uma urgência real. Não por acaso, dominou as paradas nos EUA e no Reino Unido e, décadas depois, permanece entre as maiores da Rolling Stone. Rock Around The Clock é, ao mesmo tempo, a crônica de uma noite em contagem crescente e um manifesto duradouro de liberdade juvenil, guiado pelo refrão, pelas repetições e pela pulsação implacável do tempo.