Triumph Of A Heart

“Triumph Of A Heart” e o corpo-orquestra de Björk em festa

“Triumph Of A Heart” transforma o corpo em orquestra. Construída só com vozes — Rahzel e Dokaka no beatbox e Gregory Purnhagen nas linhas “instrumentais” —, a faixa simula pulsações, sopros e texturas, dando tato ao que a letra descreve. Fiel à proposta de Medúlla, Björk usa vocabulário biológico — “nerves” (nervos), “veins” (veias), “kidneys” (rins), “lungs” (pulmões) — para celebrar vitalidade e integração dos sistemas. O refrão “the triumph of a heart that gives all” (o triunfo de um coração que dá tudo) organiza esse material como um manifesto de generosidade. Ao longo dos versos, a energia percorre o corpo: nervos enviam sinais pelos dedos, veias sustentam o sangue que jorra com ímpeto, pernas viram vias para levar o “combustível favorito” até os rins, e pulmões “aveludados” empurram oxigênio com alegria. No ápice, o coração triunfa porque compartilha.

O clipe de Spike Jonze amplia o jogo entre literal e simbólico: casa Björk com um gato e a leva a um bar onde todos constroem a música a cappella. Ao deslocar o “coração” do romance para o convívio, sugere que o triunfo também é coletivo — um corpo social. A repetição do refrão e o pulso pop/dance/hip-hop reforçam a euforia, convertendo anatomia em celebração. O resultado é um otimismo curioso e confiante: sentir o corpo por dentro e o mundo por fora como parte do mesmo fluxo, em que a vida circula melhor quando se oferece por inteiro.