Julius

Conflito e sobrevivência em "Julius" de BK'

Em "Julius", BK' utiliza a repetição da palavra "guerra" para mostrar que o conflito vivido nas periferias vai além da violência física, atingindo também o psicológico e o social. Logo no início, o verso “Sem pai e sem cair, um filho do pai de todos” evidencia a ausência paterna, uma realidade comum em comunidades marginalizadas. Essa falta de referência masculina é muitas vezes preenchida por figuras do crime, como o próprio BK' aponta em “Bandidos? Referência”. A música expõe como, diante de um ambiente hostil, a criminalidade pode parecer o único caminho possível para sobreviver e prosperar.

BK' também faz críticas diretas ao racismo estrutural e à desigualdade social. Em versos como “A lei se arreganha quando vê o arrego” e “12, 157, Julius, dois empregos”, ele denuncia a seletividade policial e a necessidade de recorrer a múltiplos "empregos" — legais ou não — para garantir o sustento. O nome "Julius" faz referência ao personagem Julius Rock, da série "Todo Mundo Odeia o Chris", conhecido por trabalhar em vários empregos para sustentar a família. No entanto, BK' ressignifica essa figura: aqui, o protagonista precisa se virar em um contexto onde o crime é uma alternativa real. O pedido de oração à mãe e ao pai no final da música mostra a busca por proteção espiritual diante da violência, enquanto a frase “Antes de matar, te mato / E o meu sangue não vira um só com o asfalto” reforça a luta para não ser mais uma vítima do sistema. Assim, "Julius" retrata de forma direta a juventude negra periférica, marcada por escolhas difíceis, resiliência e o desejo de romper com o ciclo de violência.