Chuck Berry

Reflexão social e identidade negra em “Chuck Berry”

Em “Chuck Berry”, Black Alien propõe uma reflexão profunda sobre questões sociais, raciais e existenciais. Logo no início, ao afirmar “Deus é mãe, e Ela é justa meu bem”, o artista desafia a visão tradicional de Deus como figura masculina, criticando o machismo estrutural e sugerindo uma espiritualidade mais inclusiva. Essa abordagem conecta a fé à luta por justiça social, mostrando como a religiosidade pode ser aliada na busca por igualdade.

A música também questiona a narrativa dominante do rock ao dizer “Elvis nunca foi o rei do Rock”, citando Little Richard e Chuck Berry. Com isso, Black Alien reivindica o protagonismo negro na história do gênero, reforçado pelo uso do sample de “Voodoo Woman” de Koko Taylor e pela presença de músicos negros no clipe. A letra mistura temas pessoais e sociais, refletindo o processo de autoconhecimento do artista, como em “Eu e eu à sós na ceia / Várias neurose, uma só voz, e o som na veia”. O verso “Entre João Pedro e Miguel” faz referência a casos reais de violência contra crianças negras no Brasil, ampliando o debate sobre racismo estrutural e violência policial. O refrão “Eu e meu karma, qual dos dois é o mais cretino, enfim?” revela o conflito interno do artista diante de um mundo marcado por injustiças, egoísmo e violência, como em “Mais que o covid, foi o que eu vi de covarde / Sobrando ego no feed, faltando amor na cidade”. Assim, “Chuck Berry” se destaca como um manifesto de resistência, autocrítica e valorização da cultura negra.