Confira uma análise de Pretty Hurts, música de Beyoncé

É inegável que Beyoncé é uma das mais influentes mulheres na música atualmente. Através da sua arte, a cantora procura chamar a atenção para temas importantes como feminismo, racismo e empoderamento feminino.

Um exemplo disso é a canção Pretty Hurts. Lançada como single em 2014, a letra faz uma crítica à ditadura da beleza imposta às mulheres, tocando em questões como auto aceitação, transtornos alimentares e padrões estéticos inalcançáveis.

Pra muitos, pode parecer incoerente que a diva, considerada como uma das mulheres mais bonitas do mundo, cante sobre se sentir oprimida pela pressão estética, mas isso só comprova o quanto o problema atinge até quem é vista como modelo de beleza.

Vem entender melhor essa questão em nossa análise de Pretty Hurts, hit da Beyoncé!

Análise de Pretty Hurts, da Beyoncé

Escrita por Sia, Pretty Hurts está presente no quinto álbum de Beyoncé, que traz o próprio nome da cantora como título.

A música chegou a ser oferecida para Katy Perry e Rihanna antes de chegar às mãos da Queen B, que a transformou em hino.

Adicionando elementos próprios à canção, Beyoncé incluiu seu alter ego Third Ward Trill na letra. Para quem não sabe, esse apelido apareceu pela primeira vez nos créditos do álbum de Jay-Z Magna Carta Holy Grail, nas músicas nas quais ela aparece.

Ms. Third Ward, your first question (Senhorita Third Ward, sua primeira pergunta)
What is your aspiration in life? (Qual a sua aspiração na vida?)
Oh, well, my aspiration in life would be (Oh, bem, minha aspiração na vida seria)
To be happy (Ser feliz)

O nome faz referência à The Third Ward, um bairro predominantemente negro de Houston, cidade natal da cantora, e à gíria local trill, combinação das palavras true e real, que significa verdadeira. Ou seja, é um aceno de Beyoncé às suas raízes.

Assim, podemos entender que ela se relaciona com a música em um nível pessoal, algo que é confirmado pelo videoclipe.

O mito da beleza

Para entender melhor o significado de Pretty Hurts, é importante voltar um pouco no tempo, uma vez que a letra está ligada a um importante conceito, cunhado pela escritora Naomi Wolf no início dos anos 90: o mito da beleza.

No livro O Mito da Beleza, lançado em 1992 e reeditado em 2018 no Brasil, a escritora foi a primeira a defender que, após superarem os ideais da perfeita dona de casa, as mulheres estavam sendo oprimidas com os ideais de perfeição física inalcançável. Ela escreve que:

As jovens ao meu redor, que deveriam ter sido as mais brilhantes, mais ambiciosas e mais competentes, costumavam estar presas na armadilha de um ciclo desesperado de inanição compulsiva, exercícios compulsivos ou ‘ataques’ incontroláveis de comilança e vômitos.

Assim, toda a energia gasta com exercícios e procedimentos estéticos para alcançar um padrão vendido pela indústria da beleza, que não existe, estaria adoecendo as mulheres e as impedindo de viver vidas plenas e conquistas brilhantes. 

É justamente esse o tema da música. Quando Beyoncé começa dizendo que gostaria de ser feliz, está admitindo que todo o trabalho que tem para atingir a perfeição física não traz felicidade a ela. Ela se sente vazia e está sempre insatisfeita com sua imagem.

Pressão estética

Para ilustrar o quanto a pressão estética oprime as mulheres, a letra se passa no contexto de um concurso de beleza. Segundo Beyoncé, o lugar mais degradante e crítico que uma mulher pode estar.

Ela nos lembra o quanto essa angústia é estimulada desde cedo nas crianças, muitas vezes pelas próprias mães, que se importam mais com a aparência de suas filhas do que com o que as meninas pensam ou sentem.

Mama said: You’re a pretty girl (Você é uma menina bonita)
What’s in your head, it doesn’t matter (O que você pensa, não importa)
Brush your hair, fix your teeth (Escove seu cabelo, corrija os dentes)
What you wear is all that matters (O que você veste é tudo que importa)

Assim, Beyoncé nos mostra que mesmo as pessoas consideradas bonitas sofrem desde cedo a pressão para reprimir sua individualidade e podem até machucar o próprio corpo com procedimentos dolorosos para se manter no padrão desejável pela sociedade.

Isso é ainda mais doloroso para uma mulher negra, que frequentemente é encorajada a alisar o cabelo, clareá-lo e modificar traços de sua negritude.

Afinal, a mídia diz que cabelo loiro, peito pequeno e mais magra são muito melhores.

No entanto, nada disso faz com que ela se sinta aceita e feliz de verdade, uma vez que os problemas são internos. Como diz a música, é a alma que precisa de cirurgia, não há médico ou remédio que possa curar esta dor. Então será que vale a pena?

O clipe de Pretty Hurts 

Dirigido por Melina Matsoukas, o vídeo acompanha a letra e mostra Beyoncé como uma participante de um concurso de beleza e como a busca pela perfeição afeta as mulheres envolvidas.

A personagem interpretada pela cantora aparece como alguém que não mede esforços para ser a mais bonita de todas, chegando a brigar com outra competidora e causando a antipatia das colegas. 

Falando sobre o clipe, a diretora contou à MTV que queria falar com o máximo de mulheres que pudéssemos sobre toda a dor e a luta que passamos para manter padrões impossíveis de beleza.

Queríamos dar uma dimensão sombria a essa luta e não fazer uma versão Disney. E Beyoncé estava mais do que a fim de embarcar nessa, ela completou.

Sobre a cena em que a cantora aparece derrubando seus troféus, ela explicou que representa destruir esses padrões de beleza e se tornar uma vítima deles.

É por isso que Beyoncé acaba perdendo o concurso, uma ideia que foi da própria cantora:

Eu queria que ela vencesse e não significasse nada. Mas no fim, ela não queria ganhar. E quem ganha é uma mulher albina. Achamos que seria importante e interessante quebrar as ideias do que seriam os padrões clássicos de beleza, disse a diretora.

Por sua vez, Beyoncé explicou o conceito do clipe dizendo que às vezes sinto que o mundo é uma grande competição, estamos todos sendo julgados. Queria capturar o quanto isso te deixa humilhada e insegura.

Uma análise de Formation

Gostou de saber mais sobre Pretty Hurts? Então que tal conferir também a nossa análise de Formation e entender todas as referências da música?

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